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Dizem que os olhos são o espelho da alma...

talvez o sejam e talvez seja isso o que eu mais detesto nos meus olhos: não ter controlo sobre eles. E por isso dou comigo a recorrer a algo que mos escondam ou simplesmente a desviá-los de outros olhos. Tenho problemas em ser observada e quando surge algo que me deixa desconfortável olho para longe daquela pessoa, tal como uma criança inocentemente pensa que ao tapar os olhos fica totalmente escondida. Sei que os meus olhos são uma janela aberta para que me julguem e nunca estive nem nunca vou estar preparada para isso.

Os meus olhos são azuis extremamente claros e, por isso, extremamente sensíveis ao sol. Toda a gente mos gaba. Penso que não é por mal, deve ser um elogio. As pessoas olham-me para os olhos e dizem que são lindos e pessoas estranhas pedem para tirar uma foto a uns olhos que têm um azul tão diferentente e que nunca tinha visto - dizem. A mim, sabe-me como se as pessoas me estivessem a despir sem o meu consentimento e ainda por cima a tirarem-me uma fotografia, nua.

Quando me apetece enfiar a cabeça na areia - qual avestruz - desvio o olhar com a esperança de não ser vista. Quando não me apetece falar com ninguém fexo os olhos e fico a desejar que não reparem na minha existência. Tapo os olhos com as pálpebras para não ser demasiado estranho tapá-los com as mãos. Quando choro tapo os olhos com as costas.

Mas no meio de tantos métodos de invisibilidade psicológica, há um que me deixa particularmente mais calma: ósculos de sol. Uso-os de Verão e de Inverno para suportar a dor da luz nos olhos. Só não os uso de noite ou quando chove porque parece mal. Uso-os, mas também abuso deles porque são o meu mais recorrente esconderijo no dia-a-dia.

Com eles, posso "ver sem ser vista". Não, posso ter a sensação de "ver sem ser vista". Posso até fazer de conta que não vi aquelas pessoas com quem absolutamente não me apetece fazer conversa de circunstância. Com eles vejo os outros, eles veêm-me a mim e eu vejo os olhos dos outros. A grande vantagem é que os outros não veêm os meus olhos e, logo, não me violam a "alma" de que fala o velho ditado.

Por isso, por mais que me desagrade olhar-me ao espelho com este acessório, o facto de ele ser muito mais do que um acessório faz com que esteja constantemente presente no meu dia-a-dia. Resta-me o problema dos interiores, das casas, dos prédios, da universidade, das salas de aula, dos restaurantes e cantinas, dos shoppings, dos supermercados... é aqui que a luz artificial me obriga ao olhar dos outros e que me queima os olhos mais do que a luz do sol porque, aqui, não posso proteger-me. é aqui  que, enquanto me olham olhos nos olhos e dizem "eu amo os teus olhos", eu olho para longe e penso "eu odeio os meus olhos".

Comentários

  1. Eu não me consigo habituar a usar óculos muito tempo, nem de sol...

    Mas a intenção das pessoas é serem agradaveis, porque toda a gente adora olhos azius...

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  2. A verdade é que em Portugal olhos azuis são invulgares e por isso muito apreciados. Eu também os acho bem fixe.

    Os meus olhos são estranhos, ficam verdes demais quando choro e mudam de tons. Devo ser uma mutante ou algo do género... xD

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  3. eu sei que a intensão é serem agradáveis, meninas... mas não tenho de apreciar o acto em si, apenas por a intensão ser boa :)

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