Aos sentidos chegou-me a necessidade de sentir. Não digo urgência de sentir, mas sim vontade de encostar calmamente para trás e sentir, seja com calma, seja com revolta, mas sentir sem intenção.
Anular a acção, encostar-me para trás e tão simplesmente absorver. Sentir, absorver, desfrutar, gozar do corpo e de todas as suas potencialidades sensoriais. Deixar-me ir, automatizar as acções em rotinas nauseabundas. Aproveitar a rotina como escape. Fugir da rotina sem nunca prescindir dela.
Dou-me aos sentidos. Eles que me guiem e me levem e me viajem e me matem, por fim, para que possa voltar a acordar para o dia rotineiro, para o medo da estabilidade, para o pânico da planificação.
Eles que me amem e que me odeiem e me façam sentir, que não tenho podido sentir, que não tenho, levianamente dizendo, sentido.
Talvez não faça sentido que, ainda assim, nunca tenha deixado de sentir, mas deixei a percepção ignorada. E ela levou-me a mal, e muito bem!
2014
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