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Mensagens

A mostrar mensagens de fevereiro, 2015

o gostar da Alma

sabes bem que não é da tua personalidade, ainda estranha para mim, que gosto. tão pouco é a ideia de ti - confesso que também essa questão me levantou a sobrancelha. Mas vejo agora que o que gosto em ti é a única coisa que conheço verdadeiramente.  concluí ainda que não sou eu que sinto esse gostar. é a minha Alma. é a minha Alma a gostar da tua Alma. e sei que a tua, ainda que fugazmente, também gostou da minha. não me digas que não o sentiste igual. não é no futuro que se avalia o que se sentiu no presente. podes deixar de o sentir. podes já não querer senti-lo. mas não deixas de o ter sentido. não me escrevas erro. não te escrevas arrependimento.

o instante anterior

O Agora é uma visão. Uma visão que se construiu entre o enlace de tantas outras ilusões com elas próprias. O Agora de cada instante foi originado pelo instante anterior... O Agora é então uma consequência! Uma consequência, no fundo, de algo que nunca poderíamos ter controlado. 2009

o Veado

as linhas irão eventualmente quebrar-se. não, todas não. ficará uma apenas. a mais forte. há uma linha que supera qualquer comparação material. essa permanecerá. as outras vão-se esticando e rompendo. é natural. algumas vais rasga-las tu. outras vou ser eu a larga-las. solto-as para ti, por mim. é tempo de seguir o Certo. é tempo de deixar o Universo agir sem intervenções terrenas. é tempo de libertar o Tempo. Fomos e seremos, mas, agora, não. Depois. Agora não.

como tu em oposto

Meu querido, não me leves a mal - tu és tão querido e tão tontinho... Se pelo menos o teu corpo fosse diferente... Tão oposto precisaria ser o teu corpo para assim eu me perder na doçura do teu espírito bom e da tua alma bela... Não me leves a mal, meu querido. Eu também não levo a mal a tua teimosia. Mas devo ser insistente, como tu em oposto, na afirmação da resposta negativa. Meu querido, não tens culpa, mas eu também não... Sei que te vai passar com facilidade o sentimento que me tens, que não o sinto por ti, meu querido, desculpa. Rápido nem vais notar que ele te habitou. Por isso, meu querido, não te habitues a senti-lo, nem o sintas demasiado. É só o que é. E tudo deixa de ser. Tudo passa. Sabes bem que, mesmo que venhas a consumir o meu corpo, não me vais consumir a alma, pois não o sinto da mesma forma. Desculpa, meu querido, desculpa. Sentimos coisas diferentes e isso vai fazer-me impedir que te me entregues.

perfeitamente sozinha

Estou enjoada de consumir oxigénio, o mesmo oxigénio que me permite viver em sufoco de tão insuportável a insistência quase mecânica, quase metafísica em respirar. Permito-me obedecer ao instinto do corpo e, se não for instinto, permito-me obedecer ao algo que me marioneta os órgãos. E se nada me marioneta os órgãos, estarei eu a viver em sufoco de vontades próprias ocultas ou sinto as essas mesmas vontades? Continuo sem perceber o que faço aqui, o que vim a este corpo fazer e o que faço, que continuo a respirar. Se não existir, ou se não o encontrar, propósito de vida, o pouco que trouxe ao mundo é pouco mais do que vago... Caminho pela vida terrena à boleia dos que sabem para onde vão ou por onde vão. Quase instintivamente sigo-os, como outros seguem as estrelas. Não sei o caminho, não sei o destino, mas sei, perfeitamente convicta, que devo segui-los.  E o que recebo é tanto comparado com o que dou... Nunca soube para onde vou, nunca soube o melhor caminho, nunca

Então abraça-me e vai!

Sempre que choras esse sangue que não é teu, libertas mais um pouco de mentira... Mas ela está tão cravada na alma que faz doer tanto ao arrancar... e acaba sempre por esmagar toda a verdade que está presa ao coração! E eu sinto! sinto de cada vez que tentas rasgar a dor! Sinto as tuas lágrimas na ferida do meu sorriso e sinto o que tu sentes mesmo quando não sentes nada. Se eu arrastar o teu sorriso comigo e ele sangrar, eu vou estar a chorar, em silêncio, escondida do Mundo, apenas com a luz triste do luar e não vou conseguir evitar que ele se afogue nas nossas lágrimas. No entanto, se esse sorriso for para longe das minhas mãos cheias do nosso sangue e ofuscar a luz de todas as estrelas, eu vou estar a brilhar, por dentro, com aquele sabor a felicidade que faz com que saiba tão bem ao respirar. Então abraça-me e vai! Vai, porque a tua alegria nunca me fará sangrar e as tuas lágrimas nunca me farão sorrir. As minhas lágrimas são as tuas lágrimas. O meu sangue é

I'm the human

I'm the one brought up by the wind Maybe the sound of a tinkly rain I'm the one brought up by the moon Maybe the stars of a whole black sky I'm no one brought up by death. 2009

E paga-se assim aos olhos para não verem

Doi-me o pensamento, apertam-me as costas. Gritam-me a mudança altamente iminente e transportam-me para mundos outros, que tudo o que existe não é apenas isto. Não é apenas o que toco ou vejo. Posso fazer música com a alma, sem precisar de transcrição, de suporte físico, que suporte físico é sempre benéfico na experiência e limite na extensão, empecilho criativo. Sinto com o corpo, e com a alma, e com o espírito, e com o peso que me assombra nos locais mais felizes da minha vivência. E sinto com o silêncio como companhia de meditações íntimas, intimamente ligadas a ligações circundantes, cíclicas agonias do pensar cerebral. A semana termina para dar lugar continuidade ao cíclico sofrimento rotineiro na habituação estranha à estabilidade do corpo. Está tudo bem... Está tudo bem... Está tudo bem... E estando tudo mal, passa ao lado o cronos, dando lugar a mais uma sensação supérflua de suposto equilíbrio entre o usufruto do tempo trabalho e do tempo prazer. E paga-se ass

Visceral

Os afectos como tranquilidade transmitida ou ali mesmo criada entre dois corpos. Memórias ou ânsias produzidas ou concretizadas numa carícia.  Algo menos sexual e mais bruto da necessidade de cruzamentos de peles que, em si, são energia. Necessidade de corpo na terra e ao mesmo tempo da leveza da alma a flutuar no espaço. Tudo isto simples e, claro, complexo.  Tudo nada mais do que natural, orgânico, vivo... Tudo isto visual de olhos fechados. Tudo isto para abrir os sentidos. Aliviar o olhar ordinário e normativo; Ver o espectacular com todos os sentidos e senti-lo até com os órgãos internos. Visceral. Visceral, muitas e muitas vezes. 2014

Música Romântica

Uma música melancólica invade-me os pensamentos e transforma-me o espírito em algo muito subtil, transparente, frágil, quase desaparecido. E do desaparecimento repentino do meu espírito, os pensamentos aproveitam-se desse vazio cansado de lutar, derrotado por tantas e tantas guerras consigo mesmo. A música canta-me qualquer estupidez amorosa imperceptível. Não quero sofrer mais - penso - não consigo sofrer mais. Não percebo o que dizes, não sei do que falas, não conheço esse assunto, amor. Que merda é essa, que universo é esse? Que espécie humana se dedicaria a tal forma de fragilidade, de sujeição, de altruísmo descomprometido e de um compromisso sem liberdade? Que espécie humana é capaz de viver segundo os impulsos do coração independentemente das ordens do cérebro? O que muda cá dentro para nos fazer amar mais a alguém do que a nós mesmos? A canção chegou ao refrão. Sorri. Mas não entendo, não entendo o que diz, o que quer dizer, o que significa, ...  Quantos parv

Sentir com os Sentidos

Aos sentidos chegou-me a necessidade de sentir. Não digo urgência de sentir, mas sim vontade de encostar calmamente para trás e sentir, seja com calma, seja com revolta, mas sentir sem intenção. Anular a acção, encostar-me para trás e tão simplesmente absorver. Sentir, absorver, desfrutar, gozar do corpo e de todas as suas potencialidades sensoriais. Deixar-me ir, automatizar as acções em rotinas nauseabundas. Aproveitar a rotina como escape. Fugir da rotina sem nunca prescindir dela. E viver assim, em harmonia com os sentidos, dos mais óbvios aos mais ocultos.  Dou-me aos sentidos. Eles que me guiem e me levem e me viajem e me matem, por fim, para que possa voltar a acordar para o dia rotineiro, para o medo da estabilidade, para o pânico da planificação. Eles que me amem e que me odeiem e me façam sentir, que não tenho podido sentir, que não tenho, levianamente dizendo, sentido. Talvez não faça sentido que, ainda assim, nunca tenha deixado de sentir, mas deixei

leveza

A minha companhia às vezes aborrece-me. Nem sempre aborrece, é verdade, mas quando aborrece, aborrece mesmo. E nestes dias já não sei o que fazer comigo. o meu corpo diz-me que está cansado de pensar em acção. Mas se eu parar... se eu paro no meio da minha solidão e do meu aborrecimento de mim mesma, mergulho num oceano de coisas que me tirem facilmente do corpo. Quando me farto de mim, quero viajar sem o meu corpo. Preciso muito dessa leveza. Preciso mesmo de leveza... ou então tudo não passa de uma necessidade de fuga, uma vez mais, à necessidade de quebrar. (não me entendo!) 17 de Março de 2014

organismos em diálogo

Deu-me, além disso, a necessidade de corpos exteriores ao meu, em contacto com o meu. Se é sexual ou não, pouco importa, preciso de sentir a pele de pessoas na minha pele e ter longas e intermináveis conversas, tão fugazes quanto memoráveis, unicamente através do tacto. Dou-me a esse sentimento e dá-me alguma solidão. Preciso de alguém para dialogarmos com os corpos. Preciso de conversas verdadeiramente orgânicas. Eu mesma me travo, porém. 16 de Março de 2014

Desorganização Natural

há uma beleza incomensurável na desorganização natural do que existe. a vida urbana tirou-me isso. falta-me uma floresta dentro de casa ou, menos imediato, falta-me uma casa na floresta 16 de Março de 2014

camuflagem para olhos ordinários

Nestes dias não sei bem como me sinto. Um incómodo físico interno preenche-me, distraindo-me muitas vezes dos meus pensamentos. Há uma espécie de vertigem permanente, talvez, uma quase rejeição dos meus órgãos a tudo o que existe.  Um respirar curto, estranhamente doloroso na garganta. Lembra-me que estou viva e ao mesmo tempo dá-me a sensação de flutuar, de me misturar na matéria do ar e tornar-me, como ele, praticamente invisível, camuflagem para olhos ordinários 16 de Março - 2014

lúcidos, que somos os tolos

A necessidade praticamente imperiosa em consumir. Obrigar-me a consumir para conseguir trabalhar, trabalhar para poder consumir, consumir para conseguir sobreviver. E sobreviver para pouco viver, ou pelo menos para não viver o suficiente, que é sempre muito o tempo despendido nas actividades laborais comuns. Fazê-lo é prática fácil para os sem noção, difícil em momentos de lucidez, insuportável para os lúcidos, esses mesmos lúcidos, que somos os tolos deste mundo. 16 de Março - 2014

o Amor é claro.

Amar alguém do mesmo sexo deu-me uma inquestionável clarividência sobre o amor.  Racionalizar o amor é absurdo, tão absurdo quanto querer controlar os elementos da natureza, que, ainda assim, produzir por mecanismos artificiais a chuva é mais possível do que controlar as emoções, d'entre elas o amor. Não vejo nisso nem natureza, nem verdade, por mais que a verdade seja múltipla nas percepções.  Querer amar é, logo, impossível. Conjugar ambos os verbos em conjunto é, logo, falso e, daí, inútil. Útil apenas, aliás, para atingir dissimuladamente outros fins que não o do sentir o amor, e algo além do sentir é, em si mesmo, apêndice. 20 de Março de 2014

o tempo...

Detesto passar o dia em frente ao ecrã. No meio de tanto virtual, também o tempo parece virtual, que o é na verdade, mas perco-lhe o tacto necessário para a organização mínima das tarefas ordinárias do corpo, mesmo que essa organização possa, na maioria das vezes, parecer impulsiva. Março - 2014

O cheiro nauseabundo da vida

Sorri no meio do cheiro nauseabundo da vida, não sei se por ironia, se por desespero. Às vezes, tantas e tantas vezes, já não aguento mais as prisões que me rodeiam, e que se rodeiam umas às outras e que empurram para o chão de um poço sem fundo. E eu sorrio. Foda-se. Eu sorrio de cada vez que morro. Não há muito mais a fazer. E rio da minha impotência. Impotência divina, claro, mas impotência. E de resto, e de tudo, apenas me apetece continuar a escrever, e escrever para dizer. Março - 2014

Os pêlos da minha pele

Estamos todos a crescer e a escolher caminhos, a tirar fotografias diferentes, a ser fotografados em novos cenários, a mudar o que houve, a mutar o que há e há sempre mais, há sempre mais. Circulam acontecimentos, circundam-me actos e eu mesma, em mutação e suspensão simultâneas, observo, adjectifico, subjectifico. Actuo e penso em separado, como dois corpos disconexos, que não podem com as funções um do outro. Suspendo, suspendo. A necessidade de fazer uma pausa do corpo e da mente evidencia-se numa força orgânica que me puxa, sem nunca arrancar ou partir, todos e cada um dos pêlos da minha pele. Não faz doer. Apenas faz desligar o sistema e voltar ao respirar mecânico de vida orientada pelo relógio. E as anestesias do costume para o mal de pensar voltam a resultar sem nunca resolver uma sede inexplicavelmente insaciável de algo sem nome, mas que só pode poisar dentro do corpo e da alma, bem dentro da agonia da existência física. Há algo que devo expulsar para alcançar o